Com apenas um álbum, “Rap é Compromisso” (
http://bit.ly/2dq40Z1), de 2001,
Sabotage se tornou um dos ícones do rap brasileiro. Foi o cara que derrubou muros, quebrou preconceitos e abriu espaço pra que a música da periferia fosse consumida em cadeia nacional. O Maestro do Canão, como era conhecido em referência à favela onde nasceu, na Zona Sul de São Paulo, morreu pouco antes de completar 30 anos. Mas, 13 anos depois, a música dele continua viva. Tem cerca de 200 mil pessoas ouvindo
Sabotage todo mês no Spotify. Mais surpreendente ainda é que, olhando as faixas mais ouvidas todos os dias especificamente em São Paulo, “Rap é Compromisso” (
http://bit.ly/2dODFFF), “Mun-Rá” (
http://bit.ly/2dGaXlM) e “Na Zona Sul” (
http://bit.ly/2dc1qTt) aparecem entre as principais até hoje. Prova de como a música dele continua poderosa e influente.
Mauro Mateus dos Santos nasceu na Zona Sul e virou “Sabotage” ainda criança (graças ao talento pra se sair bem, ou “sabotar”, em qualquer situação). Na escola, passava todas as aulas escrevendo músicas. Quando voltava pra casa, sentava no degrau de entrada e continuava compondo, se oferecendo pra cantar as rimas recém-escritas pra qualquer um que passasse.
AS INFLUÊNCIAS
A história do
Sabotage se confunde com a história do próprio rap nacional. Em um concurso de rimas no fim dos anos 80, conheceu (e impressionou)
Mano Brown e
Ice Blue, dois paulistas que tinham acabado de formar o
Racionais (
http://bit.ly/2dYAZF4). Pouco depois, ele despontou no
RZO (
http://bit.ly/2ducCMO)
, de Pirituba, um dos primeiros grupos de rap de protesto, ao lado de
SANDRÃO RZO,
Helião,
DJ CIA,
Negra Li e outros grandões do flow. Não que ele parasse no rap. Pro
Sabotage, as possibilidades da música eram infinitas. Ele dizia ver a própria história em “O Meu Guri” (
http://bit.ly/2dq3kD0), do
Chico Buarque, a letra em que uma mãe descreve o filho que “já foi nascendo com cara de fome”, mas que, apesar de todas as dificuldades, “na sua meninice, ele um dia me disse que chegava lá”. (Dá pra encontrar versões de “O Meu Guri” nas vozes de
Elza Soares,
Teresa Cristina,
Beth Carvalho e
Sandra de Sáno Spotify.)
Sabotage era fã de
2pac,
Dr Dre,
Snoop Dogg,
Foxy Brown,
Eminem,
Wu-Tang Clan,
JAY Z. Mas bambas do samba como
Bezerra da Silva,
Cartola,
Dona Ivone Lara e
Pixinguinha também faziam a cabeça dele.
Sandy & Junior também.
Nessa playlist exclusiva, você encontra os artistas que mais influenciaram o som dele. Ouça grátis:
http://bit.ly/2d0Dbd7
Pro
Sabotage (que é descrito pelos amigos e parceiros do rap como um cara doce, brincalhão e sorridente), não tinha tempo ruim. Ele queria levar o rap pra todos os cantos. Quanto mais pessoas ouvindo, melhor. Tanto que, assim como o 2Pac, a
Ms. Lauryn Hill e outros grandes nomes do hip hop gringo, cravou seu espaço até no cinema. Primeiro veio “O Invasor”, do diretor Beto Brant, no qual, além de aparecer em frente às câmeras, foi consultor técnico e ajudou
Paulo Miklos a construir o protagonista do filme. (Ouça a trilha completa de “O Invasor”, com Instituto,
Pavilhão 9,
Tolerância Zero e mais, aqui:
http://bit.ly/2dufzN0.) Em “Carandiru”, de Hector Babenco, foi de novo o “termômetro” do diretor pra construção do enredo e viveu o personagem Fuinha.
“Meu pai estava sempre escrevendo”, diz a filha, Tamires. “Depois de buscar a gente na escola, esquentava o almoço e sentava na sala com duas TVs e três rádios ligados ao mesmo tempo, com o caderno na mão, compondo”. Absorvendo tudo o que via e ouvia, Sabotage transformava a realidade em música, sempre produzindo. “Ele escrevia em qualquer lugar, era só ter um pedaço de papel na mão”, completa o outro filho, Wanderson, o Sabotinha. Eles tinham 10 e 9 anos quando o pai morreu.
QUEM ELE INFLUENCIOU
Sabotage deixou filhos de sangue, mas também deixou filhos musicais. E essa família é enorme. “Salve
Sabotage, MC de compromisso / Cumpre seu papel no céu / Que aqui a gente te mantém vivo”, a
Karol Conka canta em “Boa Noite” (
http://bit.ly/2dYByi6). Em “Pronto Pra Tomar o Poder” (
http://bit.ly/2d0BNr6), Maomé do
ConeCrewDiretoriadiz que “a voz de
Sabotage é o que ainda soa em meu ouvido”. “Eu sou nota 5 e sem provocar alarde / Nota 10 é Dina Di, DJ Primo e
Sabotage“, o
Criolo manda em “Sucrilhos” (
http://bit.ly/2dGbunB). (A Dina Di, vocalista do Visão de Rua, foi uma das mulheres precursoras do rap nacional. O DJ Primo, um dos DJs de hip hop mais incríveis do país, fez história com
Marcelo D2,
Afrika Bambaataa,
RAPPIN HOOD. Os dois morreram recentemente.) “Como dizia malandramente o nego
Sabotage / Rap é compromisso, entendeu? / Não é viagem”, lembra o
DEXTER RAP, ex-509-E, em “Não Vejo Nada” (
http://bit.ly/2dc0w9G).
Descubra esses e outros artistas que foram influenciados pelo Maestro do Canão nessa playlist curada pela família dele:
http://bit.ly/2dc2sPk
Sim, “o rap é compromisso”, como ele cantava. O compromisso do Sabotage era expandir os horizontes do rap no Brasil e, com isso, chamar atenção pra realidade social da periferia. Antes dele, aquele som não ganhava espaço na TV, nas rádios, na imprensa. Depois dele, o rap entrou em outra fase. Ficou maior. E se popularizou. Nas rimas de “Rap é Compromisso” vinha embutido também o talento nato e um desejo real de transformação, que colocaram uma engrenagem muito maior em funcionamento, abrindo portas e ouvidos pra gerações de MCs que nasceriam e começariam a fazer música nos anos seguintes.
Músicas podem transformar vidas. As dos Sabotage com certeza transformaram. E você? Para onde a próxima música vai te levar?